Pavilhão da Armênia leva à Bienal de Veneza a brasileira Rosana Palazyan (O Globo)

Artista carioca integra mostra que fala sobre identidade e memória nos cem anos do genocídio armênio

POR NANI RUBIN
07/04/2015 20:21

Imagem da videoinstalação “Uma história que nunca mais esqueci…” - Divulgação

RIO — A carioca Rosana Palazyan é um dos 16 artistas de origem armênia que terão seus trabalhos exibidos no pavilhão da Armênia na 56ª edição da Bienal de Veneza, que será realizada de 9 de maio a 22 de novembro. Com o título de “Armenity”, a representação do país vai marcar, com a mostra, os cem anos do genocídio armênio, massacre perpetrado pelos turcos, no qual morreram cerca de 1,5 milhão de pessoas. Rosana vai exibir a videoinstalação “Uma história que nunca mais esqueci…” (2013/2015) e trabalhos da série “Por que daninhas?” (2006-2015), com plantas e bordados feitos a partir de fios de cabelo humanos sobre tecido. A violência é tema recorrente do trabalho da artista — principalmente a doméstica, contra menores e contra a mulher. Muitas vezes ela usa o bordado, que aprendeu com uma de suas avós, para realizar obras em que a delicadeza da forma contrasta com uma narrativa de estupros e agressões.

"Uma história que nunca mais esqueci..." foi criada para a 4ª Bienal de Thessaloniki de Arte Contemporânea, na Grécia, em 2013. Num texto escrito na ocasião, a artista dizia não ter pretensões, com a obra, de virtuosismos técnicos, mas de "reordenar ou organizar a memória fragmentada sobre o genocídio armênio (c. 1915 a 1920)" com base nas histórias e relatos ouvidos ao longo da vida desde a infância. "Uma história que sempre foi impossível esquecer, pois o esquecimento seria o esquecimento do próprio ser", concluía.Foi em Thessaloniki que seus antepassados e seus amigos sobreviventes se refugiaram por alguns anos, antes de seguir seus caminhos.

Obra "Por que daninhas?", de Rosana Palazyan
Crédito Foto: Vicente de Mello 
Assim como os outros 17 artistas convidados (de países como Bélgica, Itália, França e Estados Unidos), Rosana é neta de armênios — seus quatro avós nasceram no país. A curadora Adelina Cüberyan v. Fürstenberg, suíça de origem armênia, pretende ressaltar, na mostra, conceitos como deslocamento e território, justiça e reconciliação, através de obras de revelam o quanto esses artistas da diáspora — descendentes de sobreviventes do primeiro holocausto do século XX — carregam de memória e identidade. O local escolhido para o pavilhão não poderia ser mais apropriado: o Monastério Mekitarista, na ilha de São Lázaro. Foi na ilha de São Lázaro, entre São Marcos e o Lido, que em 1717 o monge armênio Mekhitar estabeleceu a Ordem Mekitarista. No início do século XIX, foi ali Lord Byron estudou armênio, e onde muitas obras importantes da literatura europeia e textos religiosos foram traduzidos para essa língua.
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