Linguagens do corpo carioca [a
vertigem do Rio]
Body discourses [the vertigo of
Rio]
Inauguração
/
Opening: 7 de junho, 11 h com conversa
de galeria
07/06/2016
a / to: 09/10/2016
Museu de
Arte do Rio - MAR
Praça
Mauá, 5, Centro - Rio de Janeiro /RJ
"Linguagens
do corpo carioca" apresenta visões plurais da construção da imagem
dos corpos cariocas. Dimensões sociais e políticas desses corpos, do século XVI
à atualidade, entram em jogo. Misturas de comportamentos e culturas criaram
padrões tidos como tipicamente "cariocas", gírias gestuais dos
diferentes contextos sociais da cidade...
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mais em:
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http://www.museudeartedorio.org.br/em/exhibition/next
Curadoria
/ Curated by: Paulo Herkenhoff e Milton Guran
Rosana
Palazyan
Em
seguida, como se fosse necessário contar mais uma vez aquelas histórias para
que nunca fossem esquecidas, surgiram os desenhos dessa mesma série
(2000-2002).
Experimentar
este processo na arte e na vida foi inesquecível e pretendo dar prosseguimento
à proposta de viver a arte como o encontro com o Outro, na tentativa de
transformar as relações das pessoas diante de universos e questões ainda tão
desconhecidos.
“...Antes eu só pensava em maconha e
roupa de marca, mas vi minha mãe indo presa junto comigo..."
Bordado,
bonecos (poliamida, algodão, arame, courvin), objetos de plástico sobre travesseiro/
30 cm x 65 cm x 45 cm
Da
série* : "...uma história que você nunca mais esqueceu?" 2000/2007
* Baseada nos depoimento de
adolescentes internados em instituição por infringirem as leis
"…Before
I only thought about grass and branded clothing, but I saw my mother arrested
with me…"
Embroidery, ( polyamide, cotton, wire, leatherette),
plastic objects on pillow
30 cm x 65 cm x 45 cm
From the series*: "...a story you never forgot?" -
2000/2007
* Bases on interviews with teenagers kept
in institution for breaking the law
Texto
Bordado em torno da peça:
“...Antes
eu só pensava em maconha e roupa de marca, mas vi minha mãe indo presa
junto comigo. Agora quero parar. Eu tava vendendo droga, minha mãe tava perto.
A polícia apareceu, eu disse que era tudo meu. Mas ela xingou eles. Meu sonho é
estar com minha mãe. Ela pra mim é mãe e pai.....”
Text
embroidered around the piece:
"… Before
I only thought about smoking grass and branded clothing, but I saw my mother
arrested with me. Now I want to stop. I was selling drugs, my mother was near.
The police appeared and I said that it was all mine. But she huffed them. My
dream is to be with my mother. She is to me mom and dad…"
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Rosana Palazyan, 2004
Durante
2 anos (2000/2002), visitei adolescentes (de 12 a 17 anos) internados¹ em instituição
no Rio de Janeiro (Escola João Luiz Alves)² destinada à recuperação de jovens em
conflito com a lei. No início, o que
pretendia ser uma pesquisa passou a caracterizar meses de convivência diária,
diálogos, trocas culturais e afetivas, e por fim, minha inserção como
voluntária na instituição.
Experimentando uma proposta inédita e
completamente desconhecida por mim, várias obras³ surgiram durante esse processo.
Todas com base nas conversas e trocas estabelecidas com os adolescentes. Entre
elas, os objetos/instalação e os desenhos da série: “…uma
história que você nunca mais esqueceu?” (2000-2007).
Diante
de tantas histórias vividas (desde a violência doméstica e a do dia a dia nas
ruas, traumas, sentimentos de traição, agressões; e até mesmo alegrias e acontecimentos
envolvendo amizade e solidariedade), minha curiosidade era se eles haviam
guardado aquela história que nunca conseguiram esquecer. Depois de muitos
encontros essas histórias foram surgindo recuperadas de suas memórias e, a cada
dia, mais adolescentes tinham interesse em me conhecer e conversar.
Nos
trabalhos dessa série, inicialmente em forma de objetos que compunham uma
instalação, criei cenas baseadas nas respostas dos jovens. Após várias
tentativas e estudando cada movimento, encontrar aquele instante correto para a
cena, fazia-me sentir muito próxima do cinema e da fotografia. Na instalação,
esses objetos foram alinhados tendo como referência a altura das camas dos
adolescentes nos dormitórios da instituição. E a iluminação foi pontuada de
forma a projetar sombras nas paredes, trazendo da memória de infância as histórias
contadas com o "jogo de sombras" à luz de velas.
Vista da instalação / Installation view - Centro
Cultural Banco do Brasil/ RJ, 2002
A
instalação foi apresentada / The installation was presented at: Galeria Thomas Cohn/SP, 2000; Muse um Folkwang/Essen/Alemanha, 2002; Centro
Cultural Banco do Brasil/ RJ, 2002; Centro Cultural Banco do Brasil São
Paulo,2004.
Conheci mais de 100 meninos. E ouvir cada história
individualmente me fez perceber o quanto estava sendo importante nossa troca. Naquele
lugar, sozinha, entendi que se houvesse uma verdadeira intenção de
transformação pelas instituições, estudar cada caso separadamente, cada
história de vida, seria a grande oportunidade para que eles pudessem ter suas
vidas reconstruídas.
De
minha parte, depois de criar vínculos e estar tão presente no cotidiano
daqueles meninos, não poderia ir embora e desaparecer de repente. Decidi então
continuar na instituição até que o último adolescente que eu havia conhecido
individualmente tivesse sido posto em liberdade. Para que mais uma vez eles não
experimentassem o sentimento de abandono constante em suas vidas.
Após
a realização das obras, já envolvida e inserida naquele contexto junto aos
adolescentes e os profissionais que lá trabalhavam, continuei frequentando a
instituição, desta vez como voluntária e criando propostas inéditas que surgiam
de nossas trocas. Como por exemplo, a criação do Projeto Roupa de Marca, que desenvolvi em parceria com os adolescentes.
Os adolescentes (vestindo camisetas impressas com desenhos
criados por eles), Rosana Palazyan e o
diretor
da Escola João Luiz Alves, Rio de Janeiro, 2000
The adolescents (wearing T-shirts printed with
drawings created by them), Rosana Palazyan e the director
of the institution Escola João
Luiz Alves, Rio de Janeiro, 2000
¹ O prazo de internação de cada adolescente em cumprimento de
medidas socioeducativas naquela instituição variava de três meses a três anos,
mediante a avaliação da justiça.
² No período em que freqüentei essa instituição, percebi que sua
direção era diferenciada das outras existentes no Rio de Janeiro e que existia a
intenção em levar adiante o real sentido de ressocialização, mesmo diante das
dificuldades. Após a mudança da direção e com as modificações ocorridas neste
sentido, não me senti à vontade para visitar novamente a instituição. Em 2003, dando
continuidade ao processo, por 5 meses passei a frequentar
o Centro de Recursos Integrados de
Atendimento ao Adolescente (CRIAAD/Penha, antigo CRIAM/Penha), onde
estão internados adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas em
sistema de semi liberdade.
³ Obras criadas nesse período: “... um pedido para estrela cadente...” (2000/2004); Retratos (2000/2004); Escola João Luis Alves (2000); “... para Valéria, Luciana, Patrícia,
Maria, Mônica...” (2000-2004); “... minha
mãe tem o perfume doce da rosa...” (2002); Medo (2002-2004); Projeto
Roupa de Marca (2000- 2002).
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English Version
Rosana Palazyan, 2004
Over the course of 2 years
(2000-2002), I visited teenagers (aged 12 to 17) who were detained¹ at an
institution in Rio de Janeiro (Escola João Luiz Alvesl)² aimed at the
rehabilitation of young people in trouble with the law. What was supposed to be
research at the beginning, ended up characterising months of daily coexistence,
dialogues, cultural and emotional exchanges, and by the end, my inclusion as a
volunteer at the institution.
Experiencing a proposal that was
unprecedented and completely unknown to me, several works³ emerged during the
process. All based on the conversations and exchanges established with the
teenagers. Amongst them, the objects/installation and the drawings from the
series: “… a story
you never forgot?” (2000-2007).
Faced with so many stories they
lived (from domestic violence to the day-to-day of the streets, trauma,
feelings of betrayal, aggressions; and even happiness and events involving
friendship and solidarity), my curiosity was if they had kept the story they
would ever be able to forget. After many meetings these stories were emerging, recovered
from their memories, and, every day, more teenagers were interested in meeting
me and talking.
In the works from this series,
initially in the
form of objects that make up an installation, I created scenes based on the
responses of the young people. After several attempts and studying every movement,
to find the correct moment for the scene, it made me feel very close to cinema
and photography. In the installation, the objects were aligned using the height
of the teenagers’ beds in the dormitories of the institution as a reference.
The lighting was punctuated in a way that projected shadows on the walls,
bringing back from the memory the childhood stories told through a “game of
shadows” in the candlelight.
Next, as if it was necessary to
tell the stories again, so they would never be forgotten, came the drawings
from the same series (2000-2002).
I met more than 100 children. And to hear each
story individually made me realise just how important our exchange was. There,
alone, I understood that if the institutions really had a true intention to
transform, to look at each case separately, that would be the great opportunity
for them to rebuild their lives.
For my part, after creating bounds
and being so present in the daily lives of those young boys, I couldn’t simply
leave and disappear suddenly. So I decided to continue in the institution until
the last teenager that I had known individually had been freed. So that they
didn’t, once again, have that feeling of constant abandonment in their lives.
After producing the works, already involved and
inserted into the context together with the teenagers and the professionals who
worked there, I continued visiting the institution, this time as a volunteer
and creating unpublished proposals that came from our exchanges. Like for
example, the creation of “Trade mark
clothing” Project, which I developed in partnership with the
youngsters.
To experience this process in art and in life
was unforgettable and I intend to proceed with the proposal of experiencing art
as a meeting with the Other, in an attempt to transform the relationships of
people faced with universes and questions that are still so unknown.
¹ The period of
detention of each teenager, in the fulfilling of socio-educational measures at
this institution, varied from three months to three years, depending on the
evaluation of the Court.
² During the
period that I visited the institution, I realised that its direction was
different from the others that existed in Rio de Janeiro and that there was a
real intention to carry forward a true sense of re-socialisation, even faced
with the difficulties. After a change in direction and with the modifications
carried out to these ends, I did not feel a desire to visit the institution
again. In 2003, giving continuity to the process, for 5 months I began to
attend the Centro de Recursos Integrados de Atendimento ao Adolescente / Centre of Integrated Resources for Care for
Adolescents (Criadd/Penha, formerly Criam/Penha), where teenagers, who were
meeting socio-educational measures, were detained in a system of semi-freedom.
³ Works created
in this period: “... a wish to a shooting star…” (2000/2004); Portraits (2000/2004);
João Luiz Alves School (2000); “…for Valéria, Luciana, Patrícia, Maria,
Mônica…” (2000-2004);“… my mother smells like the sweet perfume
of a rose…” (2002); Fear
(2002-2004); “Trade mark clothing” Project (2000-2002)
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