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Exposição Álbum de Família

Exposição Álbum de Família
Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica
De 1 de agosto à 19 de Setembro de 2015


Curadoria Daniela Geo






Rosana Palazyan
Da série "...uma história que você nunca mais esqueceu?" - 2000/2002
Detalhe da obra: 
"... antes só pensava em maconha e roupa de marca. Mas vi minha mãe indo presa junto comigo. Agora quero parar..." - 2001

(clique na imagem para ampliá-la)


          Durante 3 anos (2000/2003), visitei adolescentes (de 12 a 17 anos) internados¹ em instituição no Rio de Janeiro (Escola João Luis Alves)² destinada à recuperação de jovens em conflito com a lei. No início, o que pretendia ser uma pesquisa passou a caracterizar meses de convivência diária, diálogos, trocas culturais e afetivas, e por fim, minha inserção como voluntária na instituição.

          Experimentando uma proposta inédita e completamente desconhecida por mim, várias obras³ surgiram durante esse período. Todas com base nas conversas e trocas estabelecidas com os adolescentes. Entre elas, os objetos/instalação e os desenhos da série: “…uma história que você nunca mais esqueceu?”

          Diante de tantas histórias vividas (desde a violência doméstica e a do dia a dia nas ruas, traumas, sentimentos de traição, agressões e até mesmo alegrias e histórias de amizade e solidariedade), minha curiosidade era se eles haviam guardado aquela história que nunca conseguiram esquecer. Depois de muitos encontros essas histórias foram surgindo recuperadas de suas memórias e, a cada dia, mais adolescentes tinham interesse em me conhecer e conversar. Nos trabalhos dessa série, inicialmente em forma de objetos que compunham uma instalação, criei cenas baseadas nas respostas dos jovens - e em seguida, como se fosse necessário contar mais uma vez aquelas histórias para que nunca fossem esquecidas, surgiram os desenhos.

          Conheci mais de 100 meninos. E ouvir cada história individualmente me fez perceber o quanto estava sendo importante nossa troca. Naquele lugar, sozinha entendi que se houvesse uma verdadeira intenção de transformação pelas instituições, estudar cada caso separadamente, cada história de vida, seria a grande oportunidade para que eles pudessem ter suas vidas reconstruídas.

          De minha parte, depois de criar vínculos e estar tão presente no cotidiano daqueles meninos, não poderia ir embora e desaparecer de repente. Decidi então continuar na instituição até que o último adolescente que eu havia conhecido individualmente tivesse sido posto em liberdade. Para que mais uma vez eles não experimentassem o sentimento de abandono constante em suas vidas.

          Após a realização das obras, já envolvida e inserida naquele contexto junto aos adolescentes e os profissionais que lá trabalhavam, continuei frequentando a instituição, desta vez como voluntária e criando propostas inéditas que surgiam de nossas trocas. Como por exemplo, a criação do Projeto Roupa de Marca, que desenvolvi em parceria com os adolescentes.

          Experimentar este processo na arte e na vida foi inesquecível e pretendo dar prosseguimento à proposta de viver a arte como o encontro com o Outro, na tentativa de transformar as relações das pessoas diante de universos e questões ainda tão desconhecidos.

Rosana Palazyan, 2004


¹ O prazo de internação de cada adolescente em cumprimento de medidas socioeducativas naquela instituição variava de três meses a três anos, mediante a avaliação da justiça. 

² No período em que freqüentei essa instituição, percebi que sua direção era diferenciada das outras existentes no Rio de Janeiro e que existia a intenção em levar adiante o real sentido de ressocialização, mesmo diante das dificuldades. Após a mudança da direção e com as modificações ocorridas neste sentido, não me senti à vontade para visitar novamente a instituição.
³ Obras criadas nesse período: “... um pedido para estrela cadente...” (2000/2004); Retratos (2000/2004); Escola João Luis Alves (2000); “... para Valéria, Luciana, Patrícia, Maria, Mônica...” (2000-2004); “... minha mãe tem o perfume doce da rosa...” (2002); Medo (2002-2004); Projeto Roupa de Marca (2000- 2002).


vídeo: matéria no canal Arte 1 sobre a exposição "Álbum de Família"

Em tempo de Copa do Mundo...

... nunca mais eu quis saber de futebol, de mais nada... - 2006
Da série* : “... uma história que você nunca mais esqueceu?” - 2000/2007



Bordado e objeto (poliamida, algodão, arame) sobre travesseiro 
20 cm x 63 cm x 45 cm - Coleção particular
* Série baseada nos depoimentos de adolescentes internados em instituição por infringirem as leis.  

Texto bordado em torno da peça: Quando eu era pequeno me pai me levava sempre pra ver ele jogando no campinho. O sonho do meu pai era ser jogador de futebol... Aí ele morreu com um tiro da polícia, na guerra do morro, tava vindo do trabalho... Nunca mais eu quis saber de futebol, de mais nada. Cresci revoltado, sangue frio, entrei pro crime... Meu pai era tudo pra mim...


Durante 3 anos (2000 a 2003), visitei adolescentes internados em instituição destinada à recuperação de jovens que infringiram as leis.  No início, o que pretendia ser uma pesquisa, passou a caracterizar meses de convivência diária, diálogos, trocas culturais e afetivas.
Experimentando uma proposta inédita e completamente desconhecida por mim, várias obras  surgiram durante este período. Todas com base nas conversas e trocas estabelecidas com os adolescentes. Uma delas é a instalação:  “… uma história que você nunca mais esqueceu?”
Diante de tantas histórias vividas (desde a violência doméstica e a do dia a dia nas ruas; traumas, sentimentos de traição, agressões - e até mesmo alegrias e histórias de amizade e solidariedade...) minha curiosidade era se eles haviam guardado aquela história que nunca mais esqueceram. Depois de muitos encontros estas histórias foram surgindo recuperadas de suas memórias, e a cada dia mais adolescentes tinham interesse em me conhecer e conversar.
Nos trabalhos desta série criei cenas baseadas nas respostas dos jovens do que para eles era impossível esquecer. 
Conheci mais de 100 meninos. E ouvir cada história individualmente me fez perceber o quanto estava sendo importante nossa troca. Naquele lugar, sozinha, entendi que se houvesse uma verdadeira intenção de transformação pelas intuições, estudar cada caso separadamente, cada história de vida, seria a grande oportunidade para que eles pudessem ter suas vidas reconstruídas.
De minha parte entendi que depois de criar vínculos e estar tão presente no cotidiano diário, não poderia ir embora e desaparecer de repente. Decidi então continuar na instituição até que o último adolescente que eu havia conhecido individualmente tivesse sido posto em liberdade. Para que não experimentassem mais uma vez o sentimento de abandono constante em suas vidas. 
Após a realização das obras, já envolvida e inserida naquele contexto junto aos adolescentes e os profissionais que lá trabalhavam, continuei frequentando a instituição desta vez como voluntária e criando propostas inéditas que surgiam de nossas trocas. 
Experimentar este processo na arte e na vida foi inesquecível e a partir dele pretendo dar prosseguimento a proposta de viver a arte como o encontro com o outro, na tentativa de transformar as relações das pessoas diante de universos e questões ainda tão desconhecidos.

Rosana Palazyan, 2004


publicado em 23 junho de 2014