Arte e Política | programa Brasil Visual | TV Brasil




Programa explora diferentes contextos para mostrar a diversidade da produção brasileira

O que é arte política? Quando é possível dizer que a arte é política? Essas são as perguntas que permeiam esse documentário, que tem um foco investigativo sobre Arte Política.

O episódio vai mostrar a diversidade da produção de arte política no Brasil, explorando diversos contextos, em entrevistas com artistas de diferentes regiões do país. Com linguagem simples, aborda aspectos históricos dessa produção, assim como questões sociais, refletindo sobre violência, identidade étnica, cidadania, território e poder.

Ao perguntar sobre o que é arte política e o que é política, o episódio também coloca em questão as relações entre Arte e Cultura. A partir das entrevistas com artistas, críticos e curadores é possível concluir que a cultura trata dos consensos, das normas sociais, das regras,
enquanto a arte desmancha convenções, questiona, lança a todos em terrenos desconhecidos.

Assim, quando se pensa sobre Arte Política, fala-se de uma arte que traz indagações sobre o mundo e sobre alguns dos principais temas da sociedade brasileira.




assista o programa completo em: http://tvbrasil.ebc.com.br/brasilvisual/episodio/arte-politica


Apresentação: Rodrigo Saad (Cabelo)
Direção: Rosa Melo
Produção: Hy Brazil Filmes e Rosa Melo Produções LTDA

Golden Lion for Best National Participation to the Republic of Armenia - 56th Venice Biennale


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“… Uma história que eu nunca esqueci…” / “… A story I never forgot…” - 56th Venice Biennale

56th Bienal Internacional Art exhibition
La Biennale Di Venezia - 2015
The National Pavilion of the Republica of Armenia
Mekhitarist Monastery, Island of San Lazzaro degli Armeni, Venice
Opening - May 9, 2015




Artistas Contemporâneos da Diáspora Armênia / Contemporary artists from the Armenian Diáspora 


No simbólico ano de 2015, por ocasião do marco dos 100 anos do Genocídio Armênio, o Ministério da Cultura da República da Armênia dedicou seu pavilhão para os artistas da diáspora armênia.(...)
Saiba mais em: www.armenity.net   

In this symbolic year 2015, on the occasion of the one hundredth commemoration of the Armenian Genocide, the Ministry of Culture of the Republic of Armenia has dedicated its pavilion to the artists of the Armenian Diaspora. (…)
Read more: www.armenity.net
Curadoria / Curated by: Adelina Cüberyan Von Fürstenberg


Rosana Palazyan
“… Uma história que eu nunca esqueci…” - 2013-2015 - Vídeo instalação
Vídeo 13’ e linhas de algodão  no chão
“… A story I never forgot…” - 2013-2015 - Video installation
Video 13’ and cotton thread on the floor



Rosana Palazyan, Junho de 2013

“... Uma história que nunca mais esqueci...” é uma videoinstalação cujo vídeo produzido de forma ‘artesanal’ não tem pretensões de virtuosismos técnicos, mas de reordenar ou organizar a memória fragmentada sobre o genocídio armênio (c. 1915 a 1920) com base nas histórias e relatos ouvidos ao longo da vida desde a infância. Uma história que sempre foi impossível esquecer, pois o esquecimento seria o esquecimento do próprio ser.

Brasileira de ascendência Armênia de ambos os lados, tendo iniciado minha carreira no final dos anos 80 e cercada por episódios de violência, traumas sociais, econômicos e políticos em meu país, não me sentia a vontade para tratar do tema “Armênia”. Minha urgência era aproximar as pessoas adormecidas pela banalização do cotidiano a estas questões. Desde então, venho buscando delicadamente ampliar, e potencializar a reflexão sobre a violência e exclusão no tecido social, onde todos acabam vitimados.

Ao ser convidada para participar da 4ª Bienal de Thessaloniki, cidade onde meus antepassados e seus amigos sobreviventes se refugiaram durantes alguns anos, o passado tão distante, estava diante de mim, tão próximo...

E “quem lembra do genocídio armênio?” Eu lembro.

Foi preciso remontar cada fragmento da memória como em um quebra cabeças, carregado de enorme custo pessoal, para recontar mais uma vez uma história que me foi contada e que nunca esqueci. Lembrar e fazer lembrar para nunca mais acontecer.

O fio condutor da história é um lenço bordado por minha avó materna, quando refugiada em Thessaloniki (Grécia) com o apoio de Armenian General Benevolente Union (AGBU), onde muito jovem foi professora de bordado. O lenço transformado a cada episódio, perpassa a história desde a memória de infância (em Konya), a vida na Grécia como refugiada, a viagem ao Rio de janeiro por volta de 1926 (e sua nova vida) - até que o lenço retorne como parte integrante da obra a ser apresentada na bienal.

Escrevo este texto no calor dos acontecimentos quando nos últimos dias em meu país, jovens, mulheres, crianças, famílias, estão nas ruas lutando por seus direitos, vivendo momentos que não vivenciamos há muitos anos. O que tem me feito pensar na proximidade de todos os projetos e experiências que a arte tem me possibilitado realizar.

Se não muda o mundo, tenho vivido a arte como um percurso do entendimento e encontro com o Outro. E de forma incansável tenho me dedicado a transformar as relações das pessoas frente a questões tão urgentes, na tentativa de fazer acionar a mobilização para um mundo melhor.

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Rosana Palazyan, June, 2013
  
“… A story I never forgot…” is a video installation in which the video, produced in an “artisanal” manner, doesn’t pretend to achieve technical excellence, but to reorder and organize the fragmented memory of the Armenian genocide (c. 1915 to 1920) based on the stories and narrative heard since childhood. To forget it would mean forgetting one’s own being.

Brazilian of Armenian descent from both sides, having started the career in the end of 1980s, surrounded by episodes of violence; social, economical, and political traumas in Brazil, I did not feel comfortable to deal with the Armenian theme. My urgency was to bring people numbed by the daily occurrence closer to these issues. Since then I’ve been trying to delicately expand the reflection about violence and exclusion in the social fabric, where everyone ends up victimized.

When invited to take part in the 4th Thessaloniki Biennial, a city where my ancestors found refuge for several years, the remote past became so close to me…

Who remembers the Armenian genocide? I do.

It was necessary to reassemble each fragment of memory as in a puzzle, full of enormous personal cost, to narrate once again the story which was told to me and which I never forgot: to remember and to do remind, to never more happen.

History runs through with a handkerchief embroidered by my grandmother when a refugee in Thessaloniki, with the support of the Armenian General Benevolent Union (AGBU), where she was an embroidery teacher. Transformed in each episode, the piece covers the story of her origin remembrances (Konya), the life in Greece, the departure to Rio de Janeiro (and new life), until the handkerchief return as part of the work in Biennial.

This text is written in the heat of the moment, when multitudes are in the streets of my country, fighting for their rights, living times we haven’t seen for a long time. This made me think of all projects and experiences that art has provided me.

If it doesn’t change the world, I have been living art as a trajectory of understanding and meeting the Other. I have tirelessly dedicated myself to transform the relations of people in the face of such issues, trying to activate a mobilization for a better world.

Projeto para video instalação / Project of the video installation
Mekhitarist Monastery - Island of San Lazzaro degli Armeni
Armenian Pavilion at the 56th International Venice Art Biennale

Detalhe da instalação / Detail of the installation

Por que Daninhas ? / Why Weeds? - 56th Venice Biennale


56th Bienal Internacional Art exhibition
La Biennale Di Venezia - 2015
The National Pavilion of the Republica of Armenia
Mekhitarist Monastery, Island of San Lazzaro degli Armeni, Venice
Opening - May 9, 2015




Artistas Contemporâneos da Diáspora Armênia / Contemporary artists from the Armenian Diáspora 


No simbólico ano de 2015, por ocasião do marco dos 100 anos do Genocídio Armênio, o Ministério da Cultura da República da Armênia dedicou seu pavilhão para os artistas da diáspora armênia.(...)
Saiba mais em: www.armenity.net   

In this symbolic year 2015, on the occasion of the one hundredth commemoration of the Armenian Genocide, the Ministry of Culture of the Republic of Armenia has dedicated its pavilion to the artists of the Armenian Diaspora. (…)

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Curadoria / Curated by: Adelina Cüberyan Von Fürstenberg

Rosana Palazyan
Por que Daninhas? - 2006-2015 - Dimensões variáveis
Why Weeds? - 2006-2015 - Site specific installation - Variable dimensions
The Closter Garden of - Mekhitarist Monastery - Island of San Lazzaro degli Armeni, Venice




Rosana Palazyan, Janeiro de 2015

A série Por que Daninhas? (2006/20015) apresenta objetos como relicários, contendo uma planta real considerada daninha sob um tecido transparente. A planta é fixada com um bordado imperceptível que acompanha seu contorno. As raízes foram substituídas por frases sobre plantas daninhas, bordadas com meus fios de cabelo. Ambos, plantas e seres humanos tem seus DNAs representados.

As frases-raízes foram extraídas de livros de agronomia consultados em minha pesquisa sobre plantas daninhas durante o processo da obra No lugar do Outro (2006)*. Trabalhando com o conceito de transformação na vida de pessoas que vivem nas ruas, em paralelo a metamorfose das borboletas - minha curiosidade sobre as daninhas deu inicio ao ler que “algumas espécies de borboletas encontram-se em extinção em conseqüência do extermínio de plantas daninhas”.  Então, o que é realmente uma planta daninha? O título Por que daninhas? questiona a terminologia utilizada para caracterizar seres vivos que são considerados indesejados.


Frases como: “poderia crescer em seu lugar algo de uma beleza mais exuberante” ou “são vistas como inimigos a serem controlados” são muito semelhantes às palavras que ouvi de algumas pessoas, durante a pesquisa nas ruas e meu envolvimento com pessoas que vivem em situação de rua.


“Qualquer espécie pode ser considerada daninha quando nasce onde não é desejada e compete por espaço e nutrientes com culturas economicamente produtivas” – esta frase me fez ampliar a reflexão sobre pessoas e plantas consideradas daninhas. Qualquer um pode ser considerado “daninha” em algum momento ou inserido em algum contexto.

Em 2010 o trabalho adquiriu um novo corpo quando montado em suportes semelhantes às legendas para plantas nos jardins botânicos e fez parte da instalação O Jardim das Daninhas (Casa França Brasil, R.J.). Um jardim onde plantas consideradas daninhas foram cultivadas junto a plantas ornamentais e medicinais – propondo uma reflexão sobre como viver junto e quem seriam as daninhas neste jardim?

Agora, peças fotográficas representando Por que Daninhas? serão instaladas no jardim interno do Mosteiro Mequitarista na ilha San Lazzaro degli Armeni (Veneza). E as plantas daninhas que crescerem naturalmente no jardim não serão removidas, vivendo juntas às plantas ornamentais já existentes.

Nesta exposição específica, no Pavilhão Armênia da 56ª Bienal Internacional de Arte de Veneza, Por que Daninhas? é um desafio e com uma abrangência maior propõe a reflexão de acontecimentos como genocídios, as imigrações caracterizadas indesejadas por alguns países, a exclusão social e o racismo, inflados por palavras e rótulos como: “ nascem onde não são desejadas”; “ são invasoras e devem ser exterminadas”.


* Em 2006, comecei a cultivar plantas consideradas daninhas – algumas eram pequenas e delicadas, outras arbustos. Com o tempo surgiram lindas flores, porém de uma beleza classificada nos livros como não comercial, tal qual o conceito de beleza utilizado no mundo capitalista contemporâneo – para “aqueles que não satisfazem a interesses econômicos imediatos”.


Desde então, até hoje, venho cultivando, colecionando, catalogando e fotografando sementes e plantas vivas; ou desidratadas/arquivadas em cadernos especialmente criados para esta coleção (pequeno herbário de plantas daninhas).  Perdi a conta de quantas espécies encontrei nas ruas de diferentes bairros do Rio de Janeiro onde vivo e nas viagens a outras cidades e países. Também nas casas, jardins, muros, terrenos, calçadas, pedras portuguesas, telhados e em locais inesperados onde nascem, crescem, sobrevivem ou desaparecem – em uma clara metáfora à vida.


Em constante processo, experimentos continuam sendo realizados neste convívio com as plantas. Aliados a conceitos ligados à arte, vida e sociedade, desde 2006, além desta, outras obras surgiram, utilizando materiais e meios diversificados – e tem sido apresentadas em exposições individuais e coletivas.

Entre as obras: Por que Daninhas? (2006-2015); Semente Daninha (2006-2007); Daninha? (2006-2015) O Jardim das Daninhas (2010); Minha coleção de sementes Daninhas (2011-2015); Rosa Daninha? (2012/2013) Daninhas nas ruas do Rio (2006-2012); Multiplicação das espécies (2006-2014); Auto de resistência (2014); Porta-retrato (2014).

O Jardim das Daninhas (2010) – Vista da Instalação
The Garden of Weeds (2010) – Installation view
Casa França Brasil, RJ


Da série Daninhas nas ruas do Rio / From the serie: Weeds in the streets of Rio (2006-2012)

Da série Minha coleção de sementes Daninhas/ From the series My collection of weed seeds (2011-2015)


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Rosana Palazyan, January 2015


The series Why weeds? (2006/2015) presents objects as reliquaries, containing a plant considered a weed* underneath a transparent fabric. The plant is fixed with an imperceptible embroidery that accompanies its outline. The roots of the plants were substituted by phrases about weeds, embroidered with my hair. Both human and plant DNA is represented.

The roots-phrases are extracted from Agronomy books consulted in my research on weeds in the process for the work In the Other’s place (2006)**. Working with the concept of transformation in homeless people life, in parallel to butterflies metamorphosis, my curiosity about weeds appeared by reading that: “some species of butterfly are extinct because the extermination of weeds”. So, what is really a weed?  The title Why weeds? raises questions about the terminology used to describe things that are considered undesirable.

Phrases such as: “something of a more exuberant beauty could grow in its place” or “they are seen as enemies to be controlled” are very similar to words I listened from some people, when my involvement researching with the homeless in streets.

“Any specie can be a weed when it is born where it is undesirable and compete for space and nutrients with economically productive cultures” - this sentence makes me amplify the reflection between humans and plants considered weeds. Any one can be a weed, at some time or in some context.
In 2010 the work acquired a new body when mounted on stands similar to plant labels at the botanical gardens, and took place at the installation The garden of Weeds (Casa França Brasil, R.J.). A garden where plants considered weeds were cultivated along with ornamental and medicinal plants – proposing a reflection about how to live together and who would be the weeds in this garden?

Now, photographic pieces representing Why weeds?  will be installed in the Closter Garden of the Mekhitarist Monastery on the Island of San Lazzaro degli Armeni (Venice). And the weeds that will grow naturally in that garden will not be removed, living together with the existent plants.
In this specific exhibition, at the Armenian Pavilion at the 56th International Venice Art Biennale, Why weeds? is a challenger and proposes the reflexion of events such as genocides, the immigrations characterized as undesirable by some countries, social exclusion, and racism inflated by words and labels: "they born where they are not wanted"; "they are invaders and must be exterminated".

* Weed in Portuguese - Daninha - is a word that is not used only to a kind of plant. It is an adjective used to designate something or someone harmful.



** In 2006, I began to cultivate plants considered weeds - some were small and delicate, other shrubs. In time emerged beautiful flowers, but a beauty classified in the books as non-commercial, like the concept of beauty used in the contemporary capitalist world - to those who do not satisfy the immediate economic interests.

Da série Daninha?  / From the series: Weeds?  (2006-2015)

From then until today, I have been cultivating, collecting, cataloging and photographing seeds and live plants; or dried / filed inside notebooks specially created for this collection (small herbarium weed). I lost count of how many species I found in the streets of different districts of Rio de Janeiro where I live and in travels to other cities and countries. Also in the houses, gardens, walls, grounds, sidewalks, portuguese stones, roofs and in unexpected places they are born, grow, survive or disappear - in a clear metaphor for life.

Da série Daninhas nas ruas do Rio / From the serie: Weeds in the streets of Rio (2006-2012)

In a constant process, experiments continue to be produced in this contact with the plants. Allied to concepts related to art, life and society, since 2006, besides this work, others emerged, using diverse materials and medias - and has been presented in solo and group exhibitions.

The works: Why Weeds? (2006-2015); Weed seed (2006-2007); Weed? (2006-2015); The garden of weeds (2010); My collection of weed seeds (2011-2015); Rose weed? (2012/2013) Weeds in the streets of Rio (2006-2012); Multiplication of the species (2006-2014); Auto de resistência (2014); Porta-Retrato (2014).

Rosa Daninha? / Rose Weed? (2012/2013)

Por que Daninhas? na instalação O Jardim das Daninhas(2010) /
Why Weeds? In the installation The Garden of Weeds ( 2010)

Quebra-cabeças familiar


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Rio dos Navegantes - MAR - RJ | revista SELECT



Exposição O Rio dos Navegantes, Museu de Arte do Rio -  De: 25/05/2019 - 03/2020

Revista Select ed. 43 - página 27
https://issuu.com/editora3/docs/select_20190522_43

ART for The World | Aqua : A Work in Progress




Leia mais // Read more: http://art-for-the-world.blogspot.com.br/p/world-water-joy-work-in-progress.html?m=1

Rosana Palazyan exibe na Bienal de Veneza obra sobre o genocídio armênio em 1915

A artista carioca relembra, no Pavilhão da Armênia, tragédia da qual seus avós foram sobreviventes


POR NANI RUBIN
01/05/2015 6:00 / ATUALIZADO 01/05/2015 9:46

Rosana Palazyan leva a Veneza a videoinstalação “...Uma história que eu nunca esqueci”
e o trabalho “Por que daninhas?” - Ana Branco / Agência O Globo

RIO — A artista carioca Rosana Palazyan sempre teve temas urgentes a tratar em seus trabalhos. Falou da violência policial em “Hóstias” (1994), dos sonhos de adolescentes em confronto com a lei em instalações como “...um pedido para a estrela cadente” e “...uma história que você nunca mais esqueceu?” (2002), dos anseios de moradores de rua em “O realejo” (2010). Tantas e tão prementes eram as questões que envolviam a artista em seu cotidiano no Rio — exclusão, violência doméstica — que ela nunca se sentira à vontade para abordar uma outra história, real e contundente como todas essas, mas de cunho biográfico: o genocídio armênio ocorrido em 1915.

Mas uma série de fatores convergiram para que, na Bienal de Veneza, que será aberta ao público no dia 9 de maio, figure um trabalho de Rosana sobre esse tema: a videoinstação “...Uma história que eu nunca esqueci...”, uma das duas obras da artista incluídas na exposição “Armenity”, do Pavilhão da Armênia. A mostra homenageia os 100 anos do genocídio, e tem como subtítulo “Artistas contemporâneos da diáspora armênia”. A carioca nascida há 51 anos no Engenho de Dentro é um dos 18 artistas convidados, de países como Estados Unidos, Grécia, Bélgica e Líbano. Como os outros, faz parte da terceira geração, os netos dos que sobreviveram ao massacre perpetrado pelo Império Otomano na gigantesca e compulsória marcha para tirar os armênios da atual Turquia.

SC - Exclusiva - Imagens do vídeo "Uma história que nunca vou esquecer", de Rosana Palazyan,
que estará na mostra "Armenity", do Pavilhão da Armênia na Bienal de Veneza - Divulgação

— Nunca tive chance de pensar nessa história e nunca me senti à vontade no Brasil para falar disso. Porque aqui a gente está sempre tão rodeada de casos de violência, de exclusão social, essas coisas é que me envolviam — conta ela.

UM LENÇO COMO FIO CONDUTOR

A chave que a fez abrir o baú dolorido das memórias da família veio em 2013, com um convite da curadora Adelina von Fürstenberg para participar da Bienal de Thessaloniki, na Grécia. Nascida em Istambul, de origem armênia e radicada na Suíça, Adelina conhecera o trabalho da artista em 2007, quando organizou no Sesc, em São Paulo, a exposição “Mulher, mulheres — Um olhar sobre o feminino na arte contemporânea”. Assim que aceitou o convite, Rosana, como de hábito, começou a pesquisar a cidade onde iria expor:

— Sabia que a família da minha avó materna, Noemi, tinha se refugiado na Grécia, mas não onde era, exatamente. Sabia que ela fora acolhida por uma organização, uma espécie de Cruz Vermelha, a Armenian General Benevolent Union, AGBU, onde aprendeu a bordar muito menina e deu aulas de bordado para sobreviver. Minha mãe tinha foto dela com a turma de bordado.

Santo Google. À busca “armenian refugees in Greece” e “embroidery workshop”, começaram a aparecer muitas fotos, entre elas a que sua avó guardara por tantos anos, com a legenda que situava o local: Thessaloniki, a mesma Salônica de que a mãe de Rosana, incitada pela pesquisa da filha, agora se lembrava — “Fiquei arrepiada, chapada, perturbada com tudo isso”, conta Rosana, que escreveu imediatamente para a curadora, propondo o trabalho.

— Mas eu não queria fazer algo focado na minha história, queria ampliar isso. Tem uma passagem de tempo desde o genocídio até a minha avó chegar aqui, formar a família dela. O que costura tudo é um lencinho que ela bordou nesse ateliê, e que percorre todo o vídeo.

O lencinho de Noemi aparece primeiro como a capa de um livrinho, onde a história é contada. Para o vídeo, Rosana criou uma série de trabalhos, em diferentes materiais. Os primeiros usam a mancha de café derramado sobre tecido, uma alusão às amigas da avó, que liam o destino de cada um na borra do café:

— Eu achava meio cafona, ria disso. Todas as previsões eram parecidas, “você vai fazer uma viagem...”. Mas ficou forte na minha cabeça, então aparece ali como se fosse o destino daquelas pessoas.

A imagem principal desta série, da marcha, foi feita a partir de uma fotografia. Outra série de trabalhos foi criada a partir de narrativas que a artista leu ou ouviu, ilustrando-as sobre hóstias da igreja ortodoxa armênia. São imagens de pessoas penduradas pelos pés, de uma mãe que teve o filho arrancado do ventre, desenhadas numa mistura de farinha com água.

— São muito pesadas. As mulheres eram estupradas na frente das crianças. E é parecido com o que a gente conhece daqui e do mundo. São fatos que seguem acontecendo. As pessoas me perguntam como consigo fazer isso. Na hora quero simplesmente fazer. Depois não consigo mais olhar. Agora, por exemplo, já fico mais nervosa — diz ela, ao exibir o vídeo num tablet.

ERVAS DANINHAS COMPÕEM SEGUNDA OBRA

Um terceiro grupo de trabalhos é composto por desenhos com bordados que mostram o percurso da avó, a partir de relatos esparsos — de criança, na terra natal, à passagem pela Grécia, onde conheceu o avô de Rosana, também refugiado, até a vinda de ambos para o Brasil, quando o lencinho reaparece, na forma de um barquinho de papel que cruza o oceano até aportar no Rio de Janeiro. Os avós paternos também nasceram lá (“Meu pai contava que meu avô, ferroviário, passou perto de um monte de corpos e viu minha avó se mexendo sob eles; ela estava viva, e ela a levou para cuidar dela”).

Rosana não conheceu os avós paternos. Já Noemi, mãe de sua mãe, era muito próxima.

— Minha avó tomava conta de mim bordando. Sempre quis me ensinar a bordar, e eu dizia que não, porque seria uma mulher contemporânea. A imagem da minha avó bordando me marcou. Mostrava as fotos da família, dos parentes, e chorava. Contava pouquíssima coisa. Por isso digo que esse trabalho é um quebra-cabeças — diz.

SC - Exclusiva - Obra "Por que daninhas", de Rosana Palazyan, que estará na mostra "Armenity",
do Pavilhão da Armênia na Bienal de Veneza - Divulgação
Inédito no Brasil, “...Uma história que eu nunca esqueci...” será exibido em Veneza ao lado de outra obra de Rosana, “Por que daninhas?”, que vem sendo realizada desde 2006. Ela recolhe ervas daninhas e as fixa entre duas peças de tecido transparente. Costura então fios de seu cabelo com frases bordadas como raízes. Aqui, eram de moradores de rua; lá, com temas como imigração e genocídio... Pesquisando, ela notou que a literatura sobre as plantas estava repleta de frases como “são indesejadas, precisam ser exterminadas”, que poderiam ser aplicadas a situações de exclusão social. O trabalho ficará no Monastério Mekitarista, importante centro de estudos da cultura armênia, na Ilha de São Lázaro. Na segunda, véspera da viagem a Veneza, a artista teve mais uma revelação: soube que seu pai, Hacik, nascido na Turquia, teria ido para a Itália, estudar num mosteiro — e é grande a chance de ser este onde ela vai expor.

http://oglobo.globo.com/cultura/artes-visuais/rosana-palazyan-exibe-na-bienal-de-veneza-obra-sobre-genocidio-armenio-em-1915-16033449