… A story I never forgot… | Ibraaz



… A story I never forgot… (2013), is a video installation in which the video, produced in an 'artisanal' manner, doesn't pretend to achieve technical excellence. Instead, it attempts to reorder and organize the fragmented memory of the Armenian genocide (c. 1915 to 1920) based on the stories and narratives I have heard since childhood. Being a Brazilian of Armenian descent from both sides, to forget such stories would mean forgetting one's own being.

The project is indeed a personal one. I started my career at the end of the 1980s, surrounded by episodes of violence and witnessing the social, economical, and political traumas in Brazil. At the time, I did not feel comfortable dealing with the Armenian theme: rather, my urgency was to bring together people numbed by the daily occurrences of these issues. Since then, I've been trying to delicately expand the reflection on violence and exclusion in the social fabric, where everyone ends up victimized.

When invited to take part in the 4th Thessaloniki Biennale, a city where my ancestors found refuge for several years, the remote past became so close to me.

Who remembers the Armenian genocide? I do.

It was necessary to reassemble each fragment of my memory as if working with a puzzle, full of enormous personal cost, to narrate once again the story which was told to me and which I never forgot. History runs through a handkerchief embroidered by my grandmother when she was a refugee in Thessaloniki, with the support of the Armenian General Benevolent, where she was an embroidery teacher. Transformed in each episode, the piece covers the story of her origins, her remembrances, her life in Greece and her eventual departure to Rio de Janeiro, to the handkerchief's return as part of the Thessaloniki Biennale.


ABOUT THE AUTHOR

Rosana Palazyan

Rosana Palazyan lives and works in Rio de Janeiro. She attended the Escola de Artes Visuais do Parque Lage (School of Visual Arts of Parque Lage) and studied Architecture and Urbanism at the Universidade Gama Filho in Rio de Janeiro. Palazyan's work in a variety of mediums promoes experiences about art, life and society along with the incorporation of the 'Other' under new ethical, aesthetical and political basis, generating a reflection on the social field of art. Recent solo exhibitions include: Casa França-Brazil, Rio de Janeiro (2010); The Place of Dream, Centro Cultural Banco do Brazil, Sao Paulo (2004); Museo de Arte Contemporáneo Rufino Tamayo, City of Mexico (2000). Group exhibitions include: The 4th Thessaloniki Biennale (2013-14); The Shelter and the Terrain, Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro (2013); The Street, Europalia Brazil Festival, Museum van Hedendaagse Kunst Antwerpen, MHKA, Antwerp, Belgium (2011); and Pretty Tough: Contemporary Storytelling, The Aldrich Contemporary Art Museum, CT, USA (2009).

http://www.ibraaz.org/projects/96#author318

Em tempo de Copa do Mundo...

... nunca mais eu quis saber de futebol, de mais nada... - 2006
Da série* : “... uma história que você nunca mais esqueceu?” - 2000/2007



Bordado e objeto (poliamida, algodão, arame) sobre travesseiro 
20 cm x 63 cm x 45 cm - Coleção particular
* Série baseada nos depoimentos de adolescentes internados em instituição por infringirem as leis.  

Texto bordado em torno da peça: Quando eu era pequeno me pai me levava sempre pra ver ele jogando no campinho. O sonho do meu pai era ser jogador de futebol... Aí ele morreu com um tiro da polícia, na guerra do morro, tava vindo do trabalho... Nunca mais eu quis saber de futebol, de mais nada. Cresci revoltado, sangue frio, entrei pro crime... Meu pai era tudo pra mim...


Durante 3 anos (2000 a 2003), visitei adolescentes internados em instituição destinada à recuperação de jovens que infringiram as leis.  No início, o que pretendia ser uma pesquisa, passou a caracterizar meses de convivência diária, diálogos, trocas culturais e afetivas.
Experimentando uma proposta inédita e completamente desconhecida por mim, várias obras  surgiram durante este período. Todas com base nas conversas e trocas estabelecidas com os adolescentes. Uma delas é a instalação:  “… uma história que você nunca mais esqueceu?”
Diante de tantas histórias vividas (desde a violência doméstica e a do dia a dia nas ruas; traumas, sentimentos de traição, agressões - e até mesmo alegrias e histórias de amizade e solidariedade...) minha curiosidade era se eles haviam guardado aquela história que nunca mais esqueceram. Depois de muitos encontros estas histórias foram surgindo recuperadas de suas memórias, e a cada dia mais adolescentes tinham interesse em me conhecer e conversar.
Nos trabalhos desta série criei cenas baseadas nas respostas dos jovens do que para eles era impossível esquecer. 
Conheci mais de 100 meninos. E ouvir cada história individualmente me fez perceber o quanto estava sendo importante nossa troca. Naquele lugar, sozinha, entendi que se houvesse uma verdadeira intenção de transformação pelas intuições, estudar cada caso separadamente, cada história de vida, seria a grande oportunidade para que eles pudessem ter suas vidas reconstruídas.
De minha parte entendi que depois de criar vínculos e estar tão presente no cotidiano diário, não poderia ir embora e desaparecer de repente. Decidi então continuar na instituição até que o último adolescente que eu havia conhecido individualmente tivesse sido posto em liberdade. Para que não experimentassem mais uma vez o sentimento de abandono constante em suas vidas. 
Após a realização das obras, já envolvida e inserida naquele contexto junto aos adolescentes e os profissionais que lá trabalhavam, continuei frequentando a instituição desta vez como voluntária e criando propostas inéditas que surgiam de nossas trocas. 
Experimentar este processo na arte e na vida foi inesquecível e a partir dele pretendo dar prosseguimento a proposta de viver a arte como o encontro com o outro, na tentativa de transformar as relações das pessoas diante de universos e questões ainda tão desconhecidos.

Rosana Palazyan, 2004


publicado em 23 junho de 2014

Da série: Multiplicação das espécies - Oxalis corniculata Homo, 2014

Oxalis corniculata Homo

                     Da série: Multiplicação das espécies



Oxalis corniculata Homo, 2014
Da série: Multiplicação das espécies
18 cm x 14,7 cm x 1.5 cm

Edição de 50 
Saiba mais : Clube Hall / Arte Hall

Oxalis corniculata Homo com edição de 50 peças, é a primeira obra da série Multiplicação das espécies.  E dá prosseguimento à proposta de questionar e gerar reflexão a classificações, definições e rótulos que transformam seres vivos em daninhas.
Como em obras anteriores, tem base na pesquisa em livros de agronomia (com definições de plantas consideradas daninhas) em paralelo às frases que usualmente são citadas por uma parte da mídia e da sociedade, relacionando-as às pessoas que se encontram em situação de exclusão social – pessoas com as quais venho trabalhando em encontros e conversas, gerando trocas e dentro de um profundo processo ao longo dos últimos anos.
Neste caso, a frase encontrada durante a pesquisa e que deu origem a esta obra - “... tem grande capacidade de multiplicação das espécies...” - me fez pensar na relação entre dois questionamentos: a facilidade de multiplicação das espécies de seres vivos considerados “daninhas”; e a proposição de múltiplos de obras de arte.
Dentro deste contexto de multiplicação de espécies/imagens/obras de arte, a escolha de materiais e procedimentos começou a ser definido:


- Em cada peça a imagem da espécie Oxalis corniculata foi impressa com tinta para carimbo, utilizando a própria planta como matriz; e com papel carbono foi desenhada a imagem de uma figura humana. Ambas deram origem ao título da obra Oxalis corniculata Homo - nome científico criado para esta nova espécie – planta/homem.
Meio pioneiro e tradicional para duplicação de textos, desenhos e documentos - o papel carbono - e almofadas impregnadas com tinta para carimbos como meio de multiplicação de formas e marcas – ambos utilizados usualmente na cor azul -  foram aqui recuperados como memória visual  - hoje esquecidos e substituídos pela tecnologia.
     - Uma pequena garrafa de vidro que guarda em seu interior sementes originais da planta Oxalis corniculata; deixa transparecer a imagem do homem desenhada sobre o tecido, como se juntos ambos fossem as sementes desta nova espécie. Trazendo a ideia de dispersão de sementes como a forma mais tradicional e eficaz ainda hoje na multiplicação das espécies.
Em aproximadamente 70 dias de produção, a primeira fase consistiu na coleta de plantas nas ruas do RJ e seu o cultivo dentro do atelier. Durante todo o processo o ciclo natural de floração e nascimento das sementes foi respeitado até que estas pudessem ser coletadas no período de dispersão e secagem em seu tempo natural para em seguida serem utilizadas.

detalhe
O carimbo produzido com a inscrição: “Daninha?” ao questionar subverte a ideia de carimbos e rótulos. Dentro desta poética, mais uma vez proponho ao espectador que se depare em uma situação sem verdades e sem repostas absolutas.

 Delicadas e frágeis, sem resistência ao impacto da impressão, suas formas foram se transformando. Além disso, foram utilizadas como matrizes novas plantas da mesma espécie com formatos diferentes encontrados na natureza. Os desenhos da figura humana produzidos um a um, mesmo que com papel carbono também tomaram formas individuais.  
Por este motivo, e pela execução totalmente manual de todos os outros procedimentos realizados peça por peça, as obras têm aparência diferenciada. Mais uma vez fazendo refletir sobre a questão de multiplicação e identidade.  
O que nesta obra se tornou mais evidente, tem sido recorrente em meu processo. Tanto o homem quanto a natureza são investigados de forma não homogênea. Buscando ouvir individualmente cada história, respeitando suas identidades, numa tentativa para o entendimento de uma nova sociedade.

                                        Rosana Palazyan, Maio de 2014


publicado em 24 maio de 2014